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O Ateísmo está com os dias contados?

Essa preocupação está presente em muitos artigos. Em particular a Folha de São Paulo de 03/03 trouxe um resumo deles na página do Luiz Felipe Pondé, o que me levou a me estender um pouco sobre o assunto.

O motivo do estresse é simples: os ateus, os seculares, os agnósticos e quem mais acredita na inexistência de um Deus, ou no fato de que Deus, mesmo que exista, não pode ser obtuso a ponto de usar como muleta nenhuma das religiões existentes, têm poucos filhos.

A crença dessas pessoas no triunfo final de suas convicções se baseava no fato de que, uma vez proporcionada uma maior educação para todos, as crendices tenderiam a desaparecer. O avanço tecnológico também iria ajudar no triunfo dos seguidores dessas tribos. Só que tudo deu errado.

As religiões souberam muito bem utilizar a tecnologia ao seu favor. Essa constatação está presente na grade de programas da nossa televisão. Abri a programação da minha NET numa terça feira à tarde e constatei o seguinte:
  • BAND: 20:28 - Show da Fé do missionário R. R. Soares
  • BAND: 03:00 - Igreja Universal - exibido de segunda a sábado com 3 horas de duração
  • SBT: 04:00 - Igreja Universal - também de segunda a sábado com 2 horas de duração
  • RECORD: - 1:15 - Programação IURD com 5 horas de duração
Outra coisa a ser observada é o fato de que, por se considerarem mais esclarecidos, essas tribos adotam a teoria da seleção natural como visão do mundo sem aplicá-la na prática. Se resumirmos o que Darwin falou em uma só sentença, diremos que quem não se reproduz não sobrevive, e é exatamente isso que está acontecendo com eles. 

Tomemos o exemplo de países modelo do ateísmo "orgânico", aqueles ateus que adotam o ateísmo por livre escolha, sem a imposição do governante de plantão: os países nórdicos da Europa:
  • Na Suécia a percentagem de ateus caiu de 85% para 64%. Queda de 25%.
  • Na Dinamarca ela caiu de 80% para 48%. Queda de 40%.
  • Na Noruega ela caiu de 72% para 31%. Queda de 57%.
  • Na Finlândia ela caiu de 60% para 28%. Queda de 53%. 
Seria um exagero creditar essa queda apenas à diferença da taxa de natalidade de crentes e não crentes, mas ela existe, é forte, e tem sido grandemente influenciada pelo crescimento de grupos cristãos fundamentalistas nessa região. Na Finlândia a relação de fertilidade entre as mulheres luteranas fundamentalistas e as seculares foi medida e os resultados são assustadores: 5,47 bebês contra 1,45.

O pesquisador alemão Michael Blume analisou 82 países e chegou a conclusões que apontam para um cenário já previsto por um Prêmio Nobel, Friedrich Hayek, no qual as cidades europeias tenderiam a se esvaziar por completo da sua população ateia. Como exemplo ele cita os ateus suíços, que têm em média 1,1 filhos por casal, contra 2,7 dos indus, 2,4 dos muçulmanos e 2 dos judeus, todos suíços. Atualmente, com a expectativa de vida mais elevada, a taxa mínima de natalidade necessária à manutenção da população de uma região é de 1,7 filhos por casal.

Voltando à Suíça, os não religiosos representam 11,1% da sua população, mas esse percentual sobe para 20% quando se consideram somente as cidades com mais de 100 mil habitantes. Esse percentual vai inexoravelmente diminuir, porque o que Blume apurou foi que, independentemente da fé, os casais que rezam pelo menos uma vez por semana têm em média 2,5 filhos, mais que o dobro dos não crentes. Os casais fundamentalistas então seguem à risca a determinação divina "crescei e multiplicai-vos", e isso apavora, porque eles mais cedo ou mais tarde vão acabar com o conceito de laicidade dos governos.

Os fundamentalistas consideram os filhos uma dádiva divina. Isso está errado, porque com a taxa de natalidade praticada por eles o planeta morre. Isso a meu ver é uma contradição importante, como aliás são importantes todas as contradições levantadas pela análise, mesmo superficial, de todo tipo de ditames estabelecidos por todas as religiões. "Cresçam, multipliquem-se, e destruam o planeta" seria mais adequado.

A população mundial de seculares, não religiosos, agnósticos e ateus, segundo estimativa de 2.002, girava em torno de 14%. Ela varia entre 0% por exemplo na Nigéria e 39% no Reino Unido, mas apenas 8% dos entrevistados se declararam ateus. Na nossa América Católica (por enquanto) esses números, embora não muito confiáveis, são mais voltados para a religiosidade:
  • Uruguai: 17,2% ateus ou agnósticos, 23,2% sem religião
  • Argentina: 11,3% indiferentes à religião
  • Chile: 8,3% ateus ou agnósticos
  • Brasil: 7,4% não religiosos
  • Colômbia: 1,9% não religiosos
  • Peru: 1,4% não religiosos
  • Paraguai: 1,1% não religiosos. 
Os dados acima tornam difícil a implantação de políticas de controle de natalidade. O Brasil tem surpreendentemente diminuído drasticamente a sua taxa de natalidade sem a necessidade de incentivos, e podemos creditar esse fato à melhora na educação e às dificuldades econômicas. Ela caiu de 6,21 em 1.960 para 1,81 em 2.010. Mesmo assim a nossa taxa de crescimento populacional está em 0,9% ao ano, um valor ainda elevado para uma população de 199 milhões de habitantes (dados de 2.012). O perigo é que o crescimento das seitas fundamentalistas tende a elevar a taxa de natalidade. Essa política é praticada pelas minorias fundamentalista em todo o mundo como estratégia de poder, haja vista a enorme taxa de natalidade dos muçulmanos ocidentais. 

O site Diário de uns Ateus, português, em 10 de abril de 2.013, traduz bem o pensamento desses líderes religiosos, e eu me permito encerrar este post com o raciocínio deles: 

Reunidos em Fátima, os bispos portugueses apelaram a incentivos fiscais para a promoção da natalidade.

Não deixa de ser irônico que um grupo de eunucos mentais, homens que voluntariamente se abstêm de contribuir para a natalidade do seu próprio povo, obedecendo de uma forma obtusa a uma imposição verdadeiramente asinina da sua torpe hierarquia, venha a público manifestar a necessidade de implementação de medidas para a resolução de uma questão da qual há muito se lamentam todos os jovens casais cujas contingências econômicas os impedem tantas vezes de se sustentar dignamente, quanto mais de aumentar a sua prole.

Sendo que não se preveem melhorias na situação econômica nacional nos próximos e longos tempos, e tendo em conta as manobras de bastidores com que algumas organizações cristãs se têm imiscuído sorrateiramente nos assuntos de Estado, opinando a favor da sua visão social, obscurecida pela necessidade caprichosa de prestação de cuidados paliativos ao sofrimento alheio como forma de manutenção e de certificação da sua existência, só posso descortinar no horizonte mais um aumento de impostos para todo o tipo de contraceptivos como única medida sustentável que possa contribuir para o aumento da taxa de natalidade.

Pra quem não sabe, asinino tem  a ver com asno. Esses caras sabem ser contundentes....




Comentários

  1. Os dados que você apresenta são uma grande novidade para mim, mas é razoável admitir-se que os não seguidores de religiões sejam mais esclarecidos, pelo menos quanto a popular incontrolavelmente o mundo. O que poder-se-ia pensar? Tema para uma produção cinematográfica: após dominarem o mundo, os religiosos vão retomar as guerras de autodestruição tão comuns entre eles ao longo da história. A sede pelo poder é maior que seguir determinadas "revelações divinas" como "crescei e multiplicai-vos".

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    1. Finalmente um comentário!! Realmente a tendência do Ateísmo é desaparecer e os governos voltarem às mãos dos fundamentalistas. Darwin não erra!

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    2. Tem coisas que a tecnologia pode fazer indiretamente o mundo mais ateista , pessoas que nao morrem por velhice , e uma revoluçao robotica , afinal tivemos que ser quase extintos pra se torna homo sapiens , rsrs as vezes menos e mais .

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  2. Caro Luis e Francisco de Assis
    O mundo nao vai acabar por explosao populacional...., Paul Ehrlich, professor de Stanford, previu em 1960 (The Population Bomb) que o planeta em 1970 iria passar por "mass starvation"....40 anos depois de 1970, e nunca se produziu tanto alimento quanto hoje e fome nunca matou tao poucas pessoas na historia da humanidade quanto mata hoje.
    Outro ponto que merece ser melhor explorado e que voces tem separado o mundo em ateus e nao ateus (ou fundamentalistas), eu acho que na realidade existe um grande numero de pessoas que nao se consideram ateus e nem sequer podem ser chamadas de fundamentalistas.
    Para a grande maioria das pessoas que se dizem religiosas, a religiao eh apenas um buffet self-service onde voce escolhe o que te interessa.
    Eu por exemplo sou cristao-catolico, sou a favor do aborto e euthanasia, acho o Papa um socialista-hipocrita, acho que as pessoas podem se casar com quem quiserem,…. E so vou a igreja quando o padre nao esta lah…. Mas sou cristao catolico.
    Os fundamentalistas sao mais organisados e mais barulhentos….mas nao acho que esse grupo cresce assustadoramente.
    De volta pro assunto inicial…..O mundo vai acabar por que, se Deus realmente existe, ele tem que punir a humanidade que inventou Tweeter e Facebook…. 
    Andre

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  3. Caro André
    O que interessa no caso é que você, sendo um cristão "pret à porter", não fundamentalista, está inserido na faixa dos que não estão contribuindo para a disseminação das suas convicções. Prova disso é que só me deu dois netos...
    A julgar pela amostragem extremamente falha (unitária), podemos concluir que pessoas com o seu modo de pensar reproduzem pouco, logo, serão sufocadas pelos que usam a teoria da evolução ao pé da letra.
    Um abraço.

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